" Não lembro de nada " Cap 156

Entrei na van e logo meus amigos fizeram o mesmo. Sentei e me inclinei para frente, coloquei as mãos no rosto e segurei o choro. Eu nunca me senti tão pequeno e incapaz.

- Cara, eles vão cuidar dela. Ela tava bem ruim, mas tem o Vinícius e todo o restante da galera. - Rober tentou me tranquilizar, após sentar-se no assento do lado.

- Nunca vi a Thaila daquele jeito. - Negão comentou. - Ela parecia tá brava com você e depois... - Continuei quieto.

- Cara, cê sabe que pode falar comigo. Quer falar? - Rober se solidarizou.

- Quero ir pra casa. - Os olhei, visivelmente abalado.

- Toca! - Wellington disse mais alto e então o motorista ligou a van e logo o veículo começou a se locomover.

- Deixa ele quieto. - Testa disse e então os dois se afastaram, indo para os assentos mais atrás de mim. Respirei fundo uma vez e a dor continuou. Respirei fundo de novo e a dor permaneceu. Grunhi e soquei minha própria perna. Como eu fui amar tanto uma pessoa assim? Sinto um vazio enorme, uma impotência maior que o mundo e totalmente fracassado. Fui o trajeto todo até o aeroporto pensando nela, no sentimento que sinto e em toda essa situação complicada. Rober e Cirilo ficaram calados também. Talvez mexendo no celular, algo assim.

- Se tiver fãs, eu vou atender. - Comuniquei. Estou me sentindo um lixo imprestável. Sentir o amor que elas me passam, vai ser bom. Talvez não tenham tantos. Já está amanhecendo.

- Beleza. - Testa respondeu. Logo chegamos ao aeroporto e havia um grupo com cerca de 10, 12 pessoas. Desci e falei com eles. Me fizeram sorri, apesar de por dentro eu ainda não estar muito bem. Abracei cada um e por fim tiramos uma foto em grupo. Me despedi e então fui até meu jatinho. Entrei e esperei alguns minutos. Durante esses minutos, fiquei olhando para o celular me matando de dúvida. Será que devo falar com Vinícius? É, ele deixou claro que não quer que eu fale, mas estou preocupado.

- Cês acham que eu devo tentar falar com Vinícius? - Olhei meus amigos, com a testa franzida.

- Cara, agora não é a melhor hora. - Cirilo disse. - Eles devem ter acabado de chegar em casa, ainda estão cuidando dela.

- É verdade. Se segura pelo menos até chegar em São Paulo, ou até amanhã. - Suspirei pesado. Não falei mais nada e fui olhar o instagram dela. Não deixei de segui-la, mas ela deixou de me seguir logo após eu anunciar o fim. Pelo menos não me bloqueou. Sua última postagem foi há uma semana, uma foto com Mathias e Vivi. Eu já vi essa foto. Não deixo passar nada que ela faz. Olhei em suas marcações e vi várias fotos de hoje, vi que alguns fã clubes estão eufóricos por estarmos no mesmo lugar, mas a grande maioria soube por alguma fonte que ficamos distantes o tempo todo. Porém um vídeo que vazou é o que mais está sendo comentado. Ela me olhando e sorrindo, enquanto eu canto. Alguém gravou da parte de baixo e é possível ver claramente seu olhar de admiração, de afeto mesmo. Isso está deixando os fã clubes que ainda nos querem juntos, loucos. Um sorriso surgiu em meu lábios.

-Vamos hein?! - Rober comunicou e então não demorou muito para decolarmos. Apesar de eu ter ficado felizinho por ver o vídeo, não paro de pensar em como ela ficou. Pelo menos isso não virou notícia. Tudo respinga em Gustavo, ele é tão gente boa, não merece tá passando por esse tipo de coisa. O Gustavo. Puta merda. O aniversário de Gustavo! Como eu esqueci disso? Ele me convidou. Antes do convite, conversamos por mensagens e ele disse que permanece neutro. Não se orgulhou do que eu fiz, mas minha atitude não faz eu ser um amigo ruim. Ele disse que não vai se meter na vida da irmã, mas deixou claro que deseja sua felicidade acima de qualquer outra coisa.

- Cês vão pro aniversário do Gustavo? - Olhei meus amigos.

- Gustaboi? - Rober questionou e eu assenti. - Não sei, cê disse que não ia. Depois de hoje eu fiquei em dúvida.

- É, mas foi muito educado da parte dele convidar. O cara é humildade total. - Cirilo disse.

- Depois de hoje eu já decidi. Eu vou ao aniversário. Cês vão comigo.

|| Thaila narrando ||

...Horas depois...

Acordei sentindo uma dor de cabeça terrível! Gemi e voltei a fechar os olhos. Sei que não estou em meu quarto. Deus, que eu não esteja em um hotel com Luan. Que eu não tenha transado com ele. Senti ânsia de vômito e abri os olhos novamente. É uma droga não lembrar de nada que aconteceu, pior ainda é sentir dor de cabeça e ânsia de vômito. Eu estou um lixo! Sentei e tentei reconhecer o lugar. Me tranquilizei. É o quarto de Vivi. Logo minha amiga apareceu ainda de pijama, com um copo cheio de água em uma de suas mãos.

- Acordou. - Deu um meio sorriso.

- Você faltou faculdade. - Ela riu de leve.

- Não estou em condições. Fui dormir bem tarde. Tu dá um trabalho medonho quando tá bêbada. - Sentou-se e me deu um comprimido e o copo. Fiz careta, sentindo minha cabeça doer para caramba.

- Desculpa. - Coloquei o comprimido na boca e bebi um pouco da água, enquanto ela me observa. - Eu tô me sentindo péssima. Sério. - após engolir o líquido.

- Imagino. Pelo jeito não lembra de nada que aconteceu ontem. - O temor me invadiu.

- Eu transei com o Luan? - Fiz careta. Eu sei que se ele insistisse teria conseguido. Aqueles beijos realmente mexeram comigo. Ainda sóbria eu estava brava demais com ele, isso me impulsionou a beber. Eu lembro. Porém depois de bêbada, não tenho noção do que pode ter acontecido.

- Não. Relaxa. - Me tranquilizei.

- Paguei mico? - Sorri de lado.

- Muitos! - Ela revirou os olhos e riu de leve. - Foi por causa dele que você bebeu né? - Me olhou compreensiva.

- Foi. - Assumi, soltando um suspiro.

- Você xingou ele pra caramba. Disse que ia mudar, ia beijar todos e, aquele filho da puta que se lascasse. - Arregalei os olhos. - Palavras suas. Disse que ele é um cretino e disse que ele beija muito bem. Disse também que ele não merece você, muito menos o sentimento tão bonito que você ainda carrega por ele. - Coloquei uma mão sobre os olhos. Que vergonha. Só se passa isso em minha cabeça. Estou com uma puta vergonha. - Enfim, foram várias coisas... Tu fica teimosa pra caralho! Queria vir dirigindo o próprio carro, quando não conseguia nem andar sozinha. - Olhei ela novamente.

- Desculpa. - Pedi mais uma vez, verdadeiramente.

- Tem mais. Talvez seja o pior da noite. - Fez careta e eu tentei me preparar.

- O que? Diz logo. - Franzi a testa preocupada, enquanto a leve ânsia de vômito se faz presente.

- O Luan viu a gente no estacionamento. Estávamos decidindo como ir embora, enquanto você insistia em dirigir seu carro. Quando tu viu o Luan se aproximando da gente, tentou andar pra longe, mas ele te segurou. - Engoli seco. Não sei se quero saber. Tento me esforçar para lembrar, mas não consigo. Que sensação ruim. - Ouvi ele te repreender por ter bebido demais. Te tratou com carinho e você chorou na frente dele, por causa dele... Eu percebi depois que ele foi embora, quando te olhei de perto.

- Puta que pariu! - bufei. - Séria possível eu ser mais palhaça? - Bebi mais um pouco de água, sentindo uma raiva tremenda de mim mesma. Sou uma idiota. Não deveria ter bebido.

- Não sei, amiga. Sinceramente eu não sei. Vocês conversaram coisas que a gente não conseguiu ouvir. Vai saber o que saiu da tua boca. - Deu de ombros.

- Espero que eu não tenha feito nenhuma declaração idiota. - Fechei os olhos com força.

- O Vini deu umas alfinetadas no Luan. - O olhei novamente, esperando contar mais. - Luan ficou preocupado com você e até eu me sensibilizei. Ele tava sofrendo demais, sabe? Dava pra perceber só de olhar. Perguntou se poderia falar com Vini pra saber como você ficaria hoje, mas seu melhor amigo deu uma bem na lata dele!

- O que ele disse? - Perguntei impaciente.

- Falou que você estaria sedo bem cuidada, coisa que o Luan não entende e tal. Tipo, falou que o Luan não soube cuidar de você.

- Droga. - Murmurei. - E ele? - Quis saber mais.

- Não rebateu. Só disse que não era hora pra aquilo e você aplaudiu Vini, rindo feito louca.

- Não fiz isso. Não fiz. - Falei mais pra mim do que pra ela, negando com a cabeça.

- Fez, amiga. Sinto em informar. Ele acabou indo embora e nós continuamos tentando controlar você. Deisy trouxe teu carro pra cá, Vini a acompanhou. Mathias, eu e meu boy viemos juntos com você de uber. - Passei a mão por meus cabelos, sem acreditar. Causei um desconforto enorme para meus amigos, paguei de palhaça total pro Luan. Que kit completo. Não preciso de bebida em minha vida. Disso eu sei. Nunca mais vou beber.

- Não vou beber nunca mais pelo resto da minha vida. - Prometi.

- Beber tudo bem, mas quando é para afogar as mágoas de um ex e esse ex está no mesmo lugar não é uma boa ideia.

- Sou uma... Idiota! Agi de forma inconsequente. - Suspirei, me condenando. - Saíram fotos?

- Vini me disse agorinha que não. Tá rolando forte um vídeo em que você olha o Luan feito boba, enquanto ele faz a participação no DVD de Wesley.

- Puta merda! - Bebi todo o restante da água, tetando me acalmar. - Não posso ter feito tanta merda em uma noite só.

- Sim, fez. Também vomitou assim que entrou aqui, me deu um trabalhão pra entrar no banheiro e tomar banho. Mas eu sou forte. Consegui. - Socou o ar, sorrindo. Sorri também. Sorri em meio a tanta vergonha. Estou realmente perplexa com os resultados da minha bebedeira.

- Desculpa. De verdade. - Pedi mais uma vez.

- Tudo bem. Amigas são pra essas coisas. - Coloquei minha mão sobre a sua, em forma de agradecimento.  - Vinícius tá vindo pra cá. - Fiz careta. Vou ouvir muito dele. Eu sei disso.

- Não tenho força pra nada. Se pudesse não sairia da sua cama. - Confessei e ela riu de leve.

- Sei como é essa sensação. - Olhei para minhas roupas e me vi de pijama. Ela ainda teve o cuidado de me vestir.

- Obrigada. - Lhe abracei. - Nunca mais quero fazer isso de novo. Tô me achando a pior das idiotas. Que papel ridículo. Ainda vou ter que lidar com as consequências disso tudo. Tem esse maldito vídeo, meu pai, Vinícius. Vini vai me dar uma lição de moral. Sem comentar sobre o Luan. Quero que me enterrem viva agora. - Ela desfez o abraço.

- Eu já passei por isso. Sei exatamente como você tá se sentindo. - Fez careta e acariciou meu braço. - Quer me contar porque bebeu daquele jeito? Foi por causa dele, certo. Eu sei, nós sabemos. Mas o que aconteceu? Você estava tão bem. - A olhei por uns instantes. Já não basta a vergonha que estou sentindo, ainda terei que falar o motivo que me levou a beber tanto.

- Ele me beijou. - Falei seguido de um suspiro. Ela me olhou boquiaberta. - A gente acabou se pegando na sala da Thyane e Wesley, pegação mesmo. Eu teria ido além e me odeio por isso, Vivi. Você não imagina o quanto. - Ela continua a me olhar com atenção. - Tudo foi interrompido quando eu lembre de três amigas que estavam falando dele. Estavam no camarote e todas transaram com ele. Acredita?

- Não. - Ela disse surpresa.

- Paguei de ciumenta total. Ridícula sabe? Ele nem namora mais comigo, terminamos porque ele me traiu e eu não me contentei em ficar com o pingo de dignidade que me restou. - Suspirei. - A gente meio que discutiu e eu voltei pra junto de vocês. Comecei a beber e olha só o resultado. - Respirei fundo. A dor de cabeça parece que triplicou, depois de eu saber disso tudo.

- Então é um pouco pior do que eu pensei.

- É. - Ri sem humor algum. Ouvimos a campanhia tocar.

- O Vinícius. - Ela disse, levantando.

- E seus pais? - Perguntei, enquanto ela já caminha em direção da porta.

- Foram trabalhar faz tempo, Thai. Já é mais de uma da tarde. - Desapareceu. Meu. Deus. O que eu fiz? O que será que eu falei com Luan? O pior de tudo é saber que logo vou ter que encontrá-lo de novo. Posso me agarrar a esperança de que ele não aceite o convite de Gustavo. Meu irmão vai fazer um churrasco em comemoração de seu aniversário e já me comunicou que chamou Luan. Fiquei brava, claro. Mas isso não fez Gustavo mudar de ideia. Se o Luan tiver um pingo de vergonha na cara, ele não vai aparecer por lá.

- Pernuda, o que eu faço contigo? - Vini já entrou falando.

- Oi. - Sorri totalmente sem graça. Ele avançou e logo me abraçou.

- Tu tá ficando maluca. Dá próxima vez, eu vou te dar uma palmadas. - Vivi riu e eu também. - É sério. Porra, fiquei preocupado. Aquele idiota foi o culpado disso tudo e ainda me aparece pedindo pra gente cuidar de tu. Sou seu melhor amigo e ele fodeu com tua vida. Vem fazer um pedido desses? Eu sei cuidar de você. - Nunca vi Vinícius tão bravo com Luan.

- Ela não lembra de nada. - Vivi disse. - Mas eu já comuniquei sobre os acontecimentos.

- Ainda é uma bêbada esquecida. - Reclamou.

- Desculpa, Vini. - O abracei mais forte.

- Não vai contar nada pro teu pai. - Ele disse.

- Ele não sabe?

- Claro que não.

- Então vou continuar mantendo em segredo. - Suspirei contra o ombro de meu amigo.

- Como você tá? - preocupou-se.

- Um lixo. Nada mais que isso.

- Merece. Procurou, então merece. - Lhe acertei um tapa e ele riu. - Pode ir me contando o que te fez beber assim. Na verdade, o que ele fez. - Desfiz o abraço e mais uma vez demonstrei o quão fraca eu sou quando se trata de Luan. Vinícius negou com a cabeça, me ouvindo contar. Claro que ele não aprova meu comportamento. Nem eu mesma aprovo. Se eu pudesse apagar tudo que fiz ontem, apagaria. Os beijos eu apagaria com dó no coração, mas apagaria. Pelo menos agora eu não estaria me sentindo tão idiota, fraca e envergonhada.









OIIIIIIIIIIIIII lindas! Thaila esquecidonaaa! Não lembra de nada, nem mesmo que disse que ainda amava o Luan. Ela ficou claramente surpresa com todas as revelações, imagina se encontra o Luan no aniversário do Gustavo? Só pra avisar que no próximo capítulo, já será a comemoração do aniversário. O que será que vai rolar? Palpites? 
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Bjs, Jéssica.