domingo, 2 de julho de 2017

" Humberto amigável " Cap 151

Acordei cedo, com o despertador tocando e lembrei dele. Fechei os olhos novamente e deixei o toque irritante do celular tomar conta do quarto. Queria que o som impedisse meus pensamentos. Ele estava tão lindo. Aquele rostinho, aquela boquinha... Coloquei as mãos em meu rosto e gemi frustrada. Eu não queria ter visto ele. Não queria. Não precisava. Talvez meu coração precisasse, mas tadinho, não leva em consideração a canalhice de Luan. Minha razão sim entende das coisas. E é por isso que eu sei que não precisava ter visto ele. Meu coração nunca bate tão acelerado como quando eu estou com ele. Meu corpo ficou totalmente sem ação. Olhar em seus olhos me deixou brava. Lembrei do que ele fez, da maneira como me disse, mas eu fiquei ainda mais brava porque apesar de tudo, meu coração idiota estava de quatro por ele. É só porque ele fode bem. É, é isso. Não é porque ele era atencioso, era carinhoso, companheiro... Droga! Não posso mentir para mim mesma. Era um conjunto completo de tudo que eu sempre quis. Tudo mentira. Foram três meses de mentira. Desativei o despertador, quando enfim, eu decidi amarrar esses pensamentos e jogá-los para fora da minha cabeça. Hoje é meu aniversário. Não preciso ficar pensando nele o dia todo. Tadinha das meninas, se empenharam tanto e no fim eu acabei estragando a noite. Não quis ficar mais nem um segundo na presença dele. Depois da nossa breve conversa, minhas amigas pediram a conta e então fomos embora. Claro, elas quiseram saber o que ele disse, mas eu não tinha condições de conversar sobre o que tinha acontecido. Iria chorar na certa. Disse a elas que contaria depois e elas não insistiram ao perceber que fiquei realmente abalada. Cheguei em casa e chorei. Chorei, meu coração chorou e minha razão chorou.

- Filho da mãe! - Falei sozinha e sentei na cama. Passei a mão por meus cabelos e logo meu celular começou a tocar. Olhei e imediatamente o sorriso apareceu em meu rosto. É Vinícius.

- Parabéns pra minha pernuda! Você tá crescendo demais, menina! - Ri dele. - Já disse várias vezes o quanto eu te amo e o quanto você é importante pra mim não é?! Nunca vai ser suficiente. Te amo demais. Tu é brother! - Ri de leve mais uma vez, quando ele se referiu a mim como um irmão.

- Não séria sister?

- Não importa. - Riu. - Te amo demais!

- Eu que te amo.

- Espera, mãe. - Ouvi ele falar. - Mais tarde tô por aí. - Voltou a falar comigo.

- Tá certo, gato.

- Como foi ontem?

- Foi bom, mas depois da meia noite eu vi o babaca. - Revirei os olhos.

- Foda! Ele acha de aparecer logo numa data dessas?

- Na verdade a data não faria muita diferença. - Ri da minha própria desgraça. - Eu ficaria arrasada do mesmo jeito.

- Mas hoje é dia de alegria. Não vamos falar do que te arrasa. Amanhã a gente pode conversar sobre isso se você quiser, mas hoje não. Estou aqui pra você.

- Eu sei. - Sorri.

- Me diz que tá feliz.

- Eu tô feliz! É meu aniversário. Eu sempre fico feliz no meu aniversário, não vai ser diferente hoje.

- Ótimo. Beijo, pernuda! Vou passar pra minha mãe. - Logo a mãe dele começou a falar comigo e em seguida seu pai. Depois de encerrar a ligação comecei a ler mensagens do whatsapp. Não há tantas. Ainda é cedo, boa parte das pessoas que conheço estão dormindo, ou se preparando pra vir pra cá.
Várias notificações do instagram começaram a chegar e então eu fiquei curiosa. Deve ser os fã clubes me homenageando. Claro, há homenagens, mas a grande maioria das notificações se resume em fãs estéricos pelo possível fim de Luan e eu, que rola na internet. Fotos nossas de ontem estão em todos os lugares. O clima não era de um casal apaixonado, logo souberam que ele chegou separado, que não sentamos juntos e que o clima não foi harmonioso. Alguns fãs se recusam a acreditar, defendendo nosso relacionamento, enquanto outros imploram pela nossa volta e ainda tem aquela parte que comemora. Suspirei. Será que agora ele finalmente vai se pronunciar sobre isso? Não sei porque adiar. Deveria deixar claro que está solteiro. Depois acaba ficando com uma piranha qualquer, vão dizer que me traiu. Depois de todas as fotos e o fatos expostos hoje, não tem mais pra onde correr. Depois de saberem que ele não vai aparecer em minha festa, mesmo estando de folga, vão confirmar suas suspeitas. Tentei focar nas homenagens. É isso que preciso dar atenção. O carinho por mim. Vi várias! Só saí da cama, quando bateram em minha porta.

- Desce logo! - Ouvi a voz de minha mãe.

- Tô indo. - Levantei sorrindo. Escovei os dentes e fiz um coque nos cabelos. Desci ainda de pijama e logo recebi abraços. Minha mãe mostrou todo seu afeto, meu irmão não ficou atrás e meu pai disse em poucas palavras o quão importante eu sou e o quão feliz e agradecido ele é por minha vida. Maria também me deu seu abraço. Ela vai mais tarde. Falei pra ela levar algum sobrinho. Jefferson vai e eu não quero que ele se sinta sozinho. Vai ter um espaço somente para os mais velhos, as crianças podem ficar juntas com eles. Vai ser na parte de cima, onde tudo vai ser mais civilizado.
Continuei sentada depois de terminar o café e o assunto Luan não foi tocado. Ainda bem. Acho que eles não viram ou estão evitando o assunto. Acredito na segunda opção. Meu pai nunca deixa passar nada sobre minha vida. Gu e seu Humberto levantaram em silêncio, sumindo da cozinha. Continuei conversando distraidamente, quando os vi voltar. Os dois trazendo uma caixinha cada. Meu irmão também segura um buquê lindo. Meu. Deus.

- Presente. - Gu disse sorrindo.

- Ah! - Bati palminhas animada. Primeiro recebi o de meu irmão. Um colar lindo. Delicado e chique. - Amei! - falei completamente encantada. - Obrigada, meu chulé! - Levantei o abraçando e então ele me deu o buquê de rosas vermelhas. - Obrigada. Te amo demais.

- Agora o meu. - Meu pai me entregou a caixinha e eu abri, vi um relógio. Não qualquer relógio. Esse tem nossas iniciais entrelaçadas no fundo, bem no centro onde ficam os ponteiros. Fiquei boquiaberta. - Feito especialmente pra você.

- Meu Deus! Pai... Pai! - O olhei com um sorriso gigantesco. - É maravilhoso! Amei muito. Já vou usar hoje. - O abracei.

- Fico feliz que tenha gostado. Fiz um bilhetinho pra você. - Ah, eu derreti. Confesso total. Ele nunca tem esses gestos. Só meu aniversário pra conseguir isso de seu Humberto. Me entregou o papel.

- Impossível não gostar. Obrigada. Vou ler mais tarde. - Desfiz o abraço ainda sorrindo. - E o seu? - Olhei para minha mãe e todos riram.

- Me cobrando presente? Não conheço você. - Fez graça e eu ri. - Nós vamos até o seu presente. - Piscou um olho e eu fiquei curiosa.

- Diego chegou. - Gu falou olhando o celular e então foi abrir a porta para o amigo. Essa casa vai lotar de visitas hoje. Logo meu irmão da vida, invadiu a casa gritando parabéns. Me abraçou e me rodopiou. Ri em seus braços.

- Te amo! Seja sempre muito feliz. Você é sem igual, garota! Parabéns, parabéns, parabéns!

- Obrigada, Di. Te amo também. - O apertei e então desfizemos o abraço.

- Vamos nos preparar? - Minha mãe me olhou.

- Ir até meu presente? Vamos! - Rapidamente subimos as escadas e então eu tomei banho rápido, quando desci já pronta, Maria trazia com a ajuda dos meninos várias caixas de presentes e buquês de flores. Ah, o carinho. Eu amo quando chega meu aniversário, me sinto mais amada do que normalmente. Somente comecei a abrir algumas coisas, até minha mãe aparece me levando para... Eu não faço ideia!
Durante o trajeto eu vi mais algumas postagens e respondi mais algumas mensagens de felicitações no whatsapp. Nem tente descobrir o que minha mãe preparou. Vou deixar me levar.

(...)

Chegamos em um spar e ao entrar encontrei as mulheres de minha família. Todas.

- É meu casamento e eu não sei? - Brinquei olhando para minha mãe. Sim, isso parece mais coisa de dia de noiva.

- Não, mas eu quis que desde já você passe momentos com pessoas especiais. Eu vi as notícias, quis fazer algo pra você não ficar pensando nele direto. Essas mulheres são faladeiras e você as ama. O que poderia ser melhor? - Olhei minha mãe com todo o amor do mundo.

- Você é demais! - Comecei a abraçar todas e ela tinha razão. Isso será uma boa distração. Também poderei colocar o papo completo em dia, afinal, vai ser o dia todo com elas. Não sei se vou aguentar. acho chato essa coisa de spar o dia todo. Mas, mesmo que eu fique entediada, não vou deixar minha mãe perceber. Começamos a receber todo o cuidado, enquanto as conversas rolam soltas e as mulheres se dividem nos vários espaços do local. Com uns minutinhos depois, minha mãe apareceu com uma caixinha pequenininha. Sorri ao saber que é mais um presente.

- Quero que você use sempre. Que seja igual sua cabeça, colada no corpo. - ri de sua exemplificação. Logo abri, enquanto recebo uma massagem nos pés. É um anel. Minha família apostou em jóias.

- Olha a parte de dentro. - Assim fiz e vi: " Estou com você " e nossas iniciais.

- Ah,mãe! Que amor! Eu adorei. Já vou começar usar de agora, mesmo que não esteja sempre em meu dedo, vai estar sempre comigo.

- Tudo bem. - Sorriu.

- Obrigada. - Apertei sua mão afetuosamente, já que não posso lhe dar um abraço. Ela continuou sorrindo e se afastou. Com espaço sozinha, eu lembre de Luan. Puta merda. Não, não. Não posso.

|| Luan narrando ||

- O que você queria com ela, Luan? Vai voltar atrás? - Tentei acordar totalmente, tentar entender de quem é essa voz do outro lado da linha.

- Oi? - Passei a mão por meu rosto, ainda com a voz rouca.

- Estou falando da Thaila! - Ah, é seu Humberto. Grunhi e fechei os olhos.

- Eu só dei parabéns. Ela está me odiando, fique tranquilo. - Falei, deixando claro minha raiva por conta de estar envolvido nisso tudo.

- Eu não quero que vocês tenham um fim definitivo. É só por enquanto. Acredite em mim. Não sou tão ruim ao ponto de querer a infelicidade da minha filha.

- Ela tá feliz agora? - Alfinetei.

- Foi uma medida drástica. Não queria ter chegado a esse ponto. Nunca interferi no namoro de vocês mesmo sabendo que poderia prejudicar na faculdade e mais, eu também desconfiava que você pudesse não ser fiel a ela. - Bufei.

- Eu tenho caráter, seu Humberto.

- Hoje eu sei disso. Sei também que ama ela de verdade, por isso eu realmente faço muito gosto que vocês fiquem juntos mais na frente. Conversei com ela sobre isso. - Meu coração parou por um momento.

- E ela? - O que me importa é saber a reação dela. Será que ainda tenho chance? Sei que nunca vou achar alguém tão incrível. Nunca vou ser tão apaixonado por um mulher novamente.

- Ela não falou nada significativo, só sobre a faculdade. Sinto muito. - Até parece que sente muito mesmo.

- Ah. - Falei. Sinto que meu coração não vai aguentar receber mais facadas.

- Se você quiser saber sobre ela, como ela está, pode me ligar.

- Tá. - engoli seco. - Ela acordou bem? - Perguntei, me sentindo curioso. Espero que não esteja o caco que eu estou.

- Aparentemente sim. Mas é como eu disse; aparentemente. Saiu com Ângela, vão passar o dia numa dessas coisas de mulher.

- Entendi. Então era isso?

- Era. Por favor, tenha paciência.

- Eu sei que é pelo bem dela, seu Humberto. Pode ficar tranquilo.

- Certo. Qualquer coisa me ligue!

- Ok. Tchau. - ele desligou. Senti minha cabeça latejar. Dor de cabeça logo ao acordar... Mas também não é pra menos. Uma noite desastrosa, uma manhã nada boa. Ela parece estar melhor que eu. Rodeada de pessoas que ela ama, esses dias foram especiais. Eu sei porque fucei tudo que é rede social de suas amigas, seu irmão, Vinícius e Diego. Busquei qualquer tipo de informação. Me estiquei todo e peguei a camiseta que usei ontem. Cheirei, sentindo seu perfume misturado ao meu. Eu a amo tanto e é por isso que vou continuar com isso. Tive culpa sim, ela se doou demais ao nosso relacionamento. Não esperava a ligação de seu pai, ele parece bem amigável comigo, mas ainda não confio totalmente nessa " amizade ". Pelo menos ele pareceu mostrar a bandeira da paz. Talvez seja grato pelo meu ato. Ele estava com bastante medo do que pudesse acontecer mais para frente. Medo da filha perder todo o futuro por um cara que ele nunca confiou totalmente. Parece confiar agora. Não sei. É tudo tão confuso e eu ainda não conversei com ninguém sobre isso. Preciso desabafar. Preciso escolher a pessoa certa pra isso. Já sei!









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