" É por ela" Cap 142

Na segunda, ao voltar da faculdade, aconteceu o que eu jamais imaginei. Sim, peguei uma dp na faculdade. O choro está na garganta. Eu não sei como vou dizer isso ao meu pai. Uma disciplina pendente pro próximo semestre. Estou me sentindo uma filha terrível, uma estudante terrível. Mathias e Vivi tentaram me consolar com palavras amigáveis, mas nada vai mudar a sensação horrível dentro de mim. Nem mesmo na escola eu fiquei de recuperação e agora na faculdade, eu fico de dependência. Suspirei e então não consegui segurar o choro. As lágrimas descendo em meu rosto. Juju me olha, como quem entende o que estou passando. Preciso falar com alguém, preciso da ajuda de alguém. Vinícius. É, ele. Enxuguei as lágrimas, mas outras brotaram e eu continuei a chorar silenciosamente. Chamou apenas uma vez e ele atendeu.

- Oi, pernuda. - Atendeu animado.

- Amigo, eu preciso falar com você. - Meu tom de voz não nega que estou chorando.

- O que aconteceu? - Pelo barulho, sei que ele está na academia.

- Eu peguei uma dp na faculdade. Eu senti um pouco de dificuldade na prova, mas nunca imaginei que minha nota séria tão baixa ao ponto de me deixar com uma disciplina pendente. Eu tô desesperada, não sei como dizer isso ao meu pai. Você não imagina a sensação ruim aqui dentro. - Solucei.

- Calma. Calma, Thaila. Respira fundo. - Fiz o que ele disse, mas isso não diminuiu meu desespero. - Isso acontece, minha linda. Conheço pessoas que pegaram dp. É complicado, mas você vai conseguir recuperar isso.

- Eu tô me sentindo tão burra sabe? Sei lá, eu não pensei que fosse passar por isso.

- Você é muito inteligente. Acontece, sua vida ultimamente têm sido uma correria.

- Você acha que o namoro me prejudicou? - funguei.

- Você acha isso? - Devolveu o questionamento.

- Vini, namorar com o Luan foi a melhor coisa que me aconteceu esse ano. Eu não deixei de estudar por causa disso. Claro que os fins de semana passaram a ser com ele, mas é o máximo que eu posso fazer pra ficar um pouco com ele.

- Sei, eu sei. - Respirou fundo. - Liga pro Humberto. Fala a verdade. O quanto antes melhor.

- Eu tô com medo. - choraminguei.

- Encara os problemas, Thaila.

- Eu tenho medo do que ele pode fazer. Se ele quiser me levar pra São Paulo? Transferir minha faculdade pra lá? Ou pior, se ele não pagar mais nada? Igual fez quando soube que eu tinha perdido minha virgindade. Vini, isso é sério. É sério, amigo.

- Eu sei que é! Você está em pânico, não dá uma pausa nem pra respirar enquanto fala. - suspirei e as lágrimas rolando com força. - Liga pra ele. Depois da ligação, se você quiser, me liga. Eu vou aí ficar com você. Se preferir ficar sozinha, eu vou entender totalmente também.

- Como eu vou dizer? - Passei a mão por meus cabelos.

- Vai direto ao ponto. Fala o que aconteceu e pronto.

- Não vai ser fácil. - funguei.

- Eu sei que não. Tô contigo, minha linda.

- Sempre está.

- Sim. - Meus lábios esboçaram um sorriso, mas logo eu voltei a chorar novamente.

- Vou desligar. Muito, muito, muito obrigada.

- Eu te amo muito.

- Eu também. - desliguei e decidi levantar do sofá. Minha barriga roncou de fome, mas isso agora é o de menos. Tenho que lidar com alguém nada fácil, sobre um assunto muito delicado. Eu deveria ter estudado mais. Eu deveria ter me esforçado mais. Eu falhei. Ele sempre me pedi tanto, sempre pediu para que eu realmente me dedicasse. A verdade é que eu não falhei somente com meu pai, mas comigo mesma. Me sinto péssima, pra lá de péssima. Não admito que eu tenha falhado dessa maneira, se nem eu admito, até imagino meu pai. Droga. Não posso ficar adiando essa conversa. Respirei fundo, tentando sessar as lagrimas, tentando adquirir discernimento. Liguei para ele, a essa hora deve estar em casa. É horário de almoço.

- Oi, Thaila. - Meu coração bateu tão rápido, pensei que passaria mal.

- Preciso falar com você. - minha voz saiu trêmula. Meu Deus, me ajuda!

- Pode falar. - Seu tom se tornou preocupado.

- É sobre os resultados... Pai, eu... É... - Me perdi nas palavras.

- Fala de uma vez, Thaila!

- Eu, eu... Eu peguei uma dp na faculdade. - Fechei os olhos com força e então só ouve silêncio.

- O que? - perguntou em um sussurro incrédulo.

- Uma dp, pai. Eu...

- Thaila, tudo que eu sempre te pedi foi dedicação aos estudos! - gritou e eu não ouvi voz de mais ninguém. Talvez ele esteja em um cômodo sozinho. Eu deveria ter ligado para minha mãe primeiro. Sim, ela me ajudaria.

- Eu me dedico, pai. Isso acontece com algumas pessoas. - Tentei diminuir minha culpa.

- Eu tô tão decepcionado. Eu sempre zelei pela educação de vocês. Você lembra da nossa vida antes de Gustavo assinar um contrato realmente bom com o Corinthians? - Eu chorei em silêncio. O entendo, nossa vida nunca foi fácil. - Eu queria um futuro melhor pra vocês. Queria não, ainda quero. Por quê você fez isso? Isso não é sinônimo de dedicação, Thaila! - Sua voz mostrava fúria e decepção. Ele se calou por um momento e eu solucei. Tudo que eu nunca quis nessa vida era decepcionar meus pais. - Quantos bicos eu peguei pra não deixar faltar comi... - Sua voz se tornou trêmula e então ele se calou novamente. Meu coração se despedaçou ao perceber que ele também tenta segurar o choro.

- Eu vou recuperar no próximo semestre. - Tentei falar firme, mas o choro não deixava.

- Eu realmente estou me sentindo culpado, eu falhei com você. Nunca houve isso quando você estava na escola, sempre foi tão inteligente. Quando me pediu pra ir morar em Fortaleza, eu aceitei. Aceitei mesmo preocupado, mesmo sabendo que sentiria saudade. Caramba, você é minha filha! E eu confiei em você! - Fechei os olhos com força.

- Eu sei disso tudo, pai. Sempre soube que em primeiro lugar sempre esteve nossa educação. - Suspirei, procurando calma. - Me perdoe. Te peço do fundo do coração. Eu nunca quis te decepcionar e acredite, eu também estou decepcionada comigo mesma. Pra outras pessoas, pode parece bobagem, mas pra mim não é, eu sei que pra você também não é. Nós sabemos que uma pessoa sem estudos não é nada nesse país e eu sei o quanto é gasto comigo aqui, aliás, faço uma ideia do quantia. Me perdoe, pai. Eu vou me dedicar mais.

- Como? Desde que aquele Luan apareceu na sua vida, você se desleixou. Sempre perguntei se ele não atrapalharia seus estudos e você disse que não! Puta que pariu! - Ele realmente está bravo, falou até palavrão. - Todo mundo pensando que era implicância boba, que eu era ciumento, exagerado. Eu sou pai! Eu zelo por você. Meu maior medo era isso, exatamente isso. Você desconcentrar do que realmente importa.

- Desculpa. - Foi o que eu pude dizer. Não tenho justificativas para meu erro. Se aconteceu, foi culpa minha. Somente minha, mas eu não vou defender Luan, sabendo que o estado de meu pai.

- Falo com você depois, Thaila! - desligou sem nem ao menos dizer que me desculpava. Minha culpa subiu consideravelmente. Uma dp pode ser mais comum do que muito imaginam, mas nunca quis isso pra mim. Minha vida escolar sempre foi com notas boas, na faculdade também. Eu vivia pra ela! Os resultados sempre eram bons. Meu pai fez todas as minhas vontades e a única coisa que sempre me pediu foi dedicação e eu falhei. Sei que passa um filme nada bom em sua cabeça. Ele tem medo que daqui em diante eu fracasse mais e eu confesso: também tenho medo de começar a falhar nos estudos mais frequentemente. Segui para meu quarto, sabendo que daqui a pouco minha mãe ligará e chulé ligará ao fim do dia. Ele com certeza está no treino e só vai saber disso mais tarde. Decidi tomar banho e fiquei perdida em pensamentos, em outro planeta. A voz de meu pai o tempo todo em minha cabeça. Seu choro entalado, sua decepção, seu medo. Ele pensa que fracassou, mas quem falhou foi eu. Só eu. Não é culpa de mais ninguém.

|| Luan narrando||

Acordei e logo percebi que não havia ninguém em casa. Talvez minha irmã esteja envolvida com algo da faculdade na casa de alguém, ou está com o namorado. Li o bilhetinho que minha mãe deixou no balcão da cozinha e sorri ao ver sua letrinha: " Filho, eu tive que ir no mercado. Tá faltando algumas coisas, mas quando eu voltar, vamos almoçar juntos. " Sempre tão dedicada a nossa família, a está casa. Meu pai deve estar trabalhando. Com certeza em meu escritório. Hoje, antes de viajar eu também vou passar boa parte da tarde lá. Tomei água e decidi comer uma fruta, enquanto minha mãe não volta. Logo meu celular tocou, pelo horário imaginei ser Thaila, porém, quando olhei no visor, era um número que não conheço. Franzi a testa e atendi.

- Alô? - espero que não seja nenhuma fã. Já perdi as contas de quantas vezes tive que trocar de número.

- Luan? - Ouvi a voz de um homem.

- Quem é? - Devolvi uma pergunta, ainda desconfiado.

- Pai da Thaila. - disse seco e então eu franzi ainda mais a testa.

- Oi, seu Humberto. Tudo bem?

- Não, nada bem. Preciso falar com você. Agora se possível.

- É algo com a Thaila? Ela tá bem? - senti meu coração bater ligeiramente preocupado.

- É sobre ela. Mas não fique tão preocupado. - Suspirou. Impossível não ficar preocupado!

- Diga. O que houve?

- Preciso conversar pessoalmente. Não ligue pra ela, é assunto nosso. Entre eu e você.

- Sobre ela? - perguntei ainda muito confuso.

- Está em casa? - perguntou sem paciência.

- Sim, pode vir aqui. - Lhe passei o endereço e logo ele desligou de forma fria. O que será que aconteceu? Passei a mão por meus cabelos ainda molhados, sentindo muito medo. Não é algo bom. Com certeza deve ser algo bem ruim. Sentei no sofá da sala e fiquei inquieto esperando. Sou todo nervosismo agora. Será que ela está bem? Droga! Se ele não tivesse me pedido para não ligar pra ela, já teria ligado pra saber o que está acontecendo.

Com pouquíssimos minutos a campanhia tocou. Ele com certeza veio voando, ou é minha mãe. Caminhei em passos largos e logo o vi com o semblante sério, Bem sério. Meu sogro sabe mesmo intimidar somente com o olhar.

- Entre. - falei e assim ele fez.

- Nossa conversa precisa ser em particular. - Deixou claro.

- Vamos pra salona. - Segui na frente e ele logo atrás de mim. Me segurei o tempo todo pra não perguntar o que houve e não parecer desesperado. - Fique a vontade, seu Humberto. - ele sentou e eu sentei ao seu lado, não tão perto. Respirou fundo e colocou as o rosto entre as mãos. Meu coração está angustiado.

- A Thaila... Ela... - Respirou fundo e me olhou nos olhos. - Ela pegou uma dp na faculdade. - Franzi a testa e confesso que não sei o que significa.

- É algo muito ruim?

- É como ficar de recuperação na escola. Mas na faculdade é bem mais complicado. Ela vai ter que rever toda a disciplina pendente e ainda seguir vendo as novas disciplinas.

- Ela não me disse nada. - Falei baixo, ao perceber que o assunto realmente é delicado.

- Ficou sabendo hoje e me ligou. - Respirou fundo mais uma vez e fechou os olhos com força. - Eu sempre, sempre, todos os dias, oro a Deus pra que ela se forme, que não perca o foco, que todo o esforço que sempre fiz valha a pena. Todos. Os. Dias. Não passa nenhumzinho. Você tem noção de como eu fiquei decepcionado? Com ela e comigo? - Continuei ouvindo, sem entender porque ele me escolheu pra conversar tão profundamente.  - Luan, a gente sempre teve uma vida muito complicada, com a graça de Deus nós conseguimos conforto. Meu filho conseguiu mudar nossa vida, tudo isso porque sempre teve foco. Antes, nossa realidade era bem diferente. Sabe o que é ter minha única menininha pedindo uma festa de 15 anos e não poder dar? Sabe o que é ver meus dois filhos querendo os brinquedos que passavam na tv e não poder dar? Você não sabe. Você não sabe um terço do que a gente passou. - Sua voz começou a ficar embargada e ele não se segurou, quando percebi já vi suas lágrimas descendo por seu rosto. Fiquei imóvel, sem saber o que fazer, como agir. - Eu fiz o que ela me pediu. Foi cursar a faculdade em Fortaleza, comprei um apartamento e até hoje pago todas as despesas. Por ela, já estaria trabalhando e pagando suas contas. Mas eu nunca permiti. Eu quero dar isso a ela e mais, quero que ela somente estude. Hoje ela pode se dar a esse luxo. Tudo que eu quero é que os dois tenham um futuro diferente sabe? Que nunca passem o que eu e Ângela passamos. Educação é tudo e eu quero que ela realmente consiga ser arquiteta. Mas agora eu estou apavorado com a hipótese de ela só piorar e sabe do que mais? Ela também se sente assim. Não precisou me dizer, seu choro já dizia tudo. Você sabe que tudo mudou depois que você chegou, não sabe? - fungou e eu engoli seco. Confesso que estou realmente tocado e entendendo o que ele quer dizer.

- Os fins de semana passaram a ser comigo. - falei em um fio de voz.

- Nem com a família ela passava todos os fins de semana. Pra ficar com você ela faz o possível e o impossível. Por isso eu não queria namoro agora. Esse era um dos grandes motivos pra eu querer ela solteira. Agora tudo vai complicar na vida de estudante dela. Eu tô bem aflito com tudo, realmente chateado. Me sentindo um fracasso como pai.

- Não é pra tanto. - tentei amenizar e ele riu sem nenhum humor.

- Você nunca foi pobre como nós fomos. Você não é pai. É como pai, um pai que zela pela educação dos filhos, que venho te pedir: se afasta da minha filha. - Suas palavras me atingiram como um soco no estomago.

- O que?

- Se você realmente ama ela, assim como eu amo, você vai se afastar. Luan, você tá atrapalhando a vida dela! - Disse um pouco estérico e voltou a colocar as mãos no rosto, chorando forte. - Antes de você isso nunca aconteceu, ela sempre se saiu bem. Mas agora o foco não é mais o mesmo, o tempo livre também não. Quantas vezes ela vai direto pra faculdade depois de um fim de semana com você? Seja sensato, é para o bem dela! - disse desesperado me olhando. - Eu sei que ela ama você como nunca amou outro homem, sei que ela vai sofrer e eu lamento verdadeiramente por isso. Mas estamos falando do futuro dela. Só faltam dois anos. Dois anos. É só isso que te peço. Se você ama ela tanto quanto demonstra, deixa ela se formar, voltar a se dedicar inteiramente nos estudos. É um pedido de um pai aflito, decepcionado e zeloso. Tem muito em jogo. O futuro dela é muita coisa. Se esse namoro continuar, as dp's vão continuar a acontecer. Ela vai acabar se afogante e... - Soluçou. - Se for preciso eu me ajoelho aqui. - Fez menção de fazer tal coisa, mas eu impedi. Estou todo dividido em dúvida. Ele está desesperado e eu sei que tem razão. Nosso namoro teve grande culpa nisso tudo. Eu tive.

- Você tem noção do que tá me pedindo?

- Tenho. - Enxugou as lágrimas. - Eu sei que vou magoá-la por um lado e a você também, mas o outro lado é bem maior. É o futuro dela, Luan. São os estudos dela. Só espera um pouco, por favor. Eu imploro.

- Eu não quero causar mal a ela. Não quero que tenha nenhuma possibilidade de voltar a ter a vida que teve um dia, já conversamos sobre isso algumas vezes e eu sei de alguns acontecimentos. - Disse, segurando o choro na garganta. Eu vou ter que deixá-la. Se eu parar pra pensar, isso é o melhor a ser feito. Engoli seco e passei uns segundos em silêncio, sem conseguir dizer as palavras, sem querer. Meu coração brigando feio com minha razão. - Só por um tempo. - Disse por fim, sentindo meu coração sangrar. A pior sensação que já senti em toda minha vida, parece que vou me desmontar em pequenos pedaços. Meu coração dói tanto.

- Só por um tempo. - Ele me abraçou. - Muito obrigado. De todo o coração muito obrigado. - Continuou a falar obrigado repetidamente, chorando e eu só consigo ficar calado. Sem acreditar que concordei com isso, que vou terminar com Thaila. Thaila. O meu amor. Meu Deus! É para o bem dela, não quero atrapalhar aquilo que sua família mais preza. A faculdade. Seus estudos. Seu futuro. Eu vou esperar por ela. Vamos construir juntos nosso futuro. Sei que fomos feitos para ficarmos juntos. Uma lágrima solitária escorregou em minha bochecha. É por ela. Só por um tempo. É por amor.








OIIIIIIIIIIII lindas! O tempo fechou de vez hein?! Thaila ferrada, Humberto desesperado e Luan decidido a terminar com ela mesmo contra vontade. Quem também já está de coração partido? Será que ele termina mesmo? Será o fim temporário do nosso casal? O que acham? 
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Bjs, Jéssica.